A palavra empreendedorismo começou a fazer parte da minha vida em 2015, quando comecei a pesquisar sobre ter meu próprio negócio, ainda na faculdade. Por interesse, comecei a participar de muitos eventos que envolviam essa palavra, meet ups, palestras, imersões e muito mais, pois meus objetivos eram aprender e me posicionar no mercado como designer e conhecer pessoas que pudessem agregar na minha vida.
Porém, uma série de pequenos incômodos se instauravam todas as vezes que me envolvia no meio de startups e ditos empreendedores. Era eu rodeada de muitos homens, a maioria de meia idade, que bradavam palavras e jargões como “foguete não tem ré” e “trabalhe enquanto eles dormem”. Um meio que me fazia sentir diminuída, uma verdadeira estranha no ninho e, a cada ano, me sentia pior.
Eu não podia ser a única, certo? Devia existir uma explicação para isso.
E não só existe, como os dados são assustadores: apesar de o Brasil ser o sétimo país com maior número de mulheres empreendedoras do mundo, com um total de 30 milhões - 48% do total - e com nível escolar 16% superior, os negócios femininos faturam 22% menos.
Outro fator importante é que a maioria dos homens afirmam, de acordo com o Sebrae, que abriram seu negócio para obter liberdade. Já as mulheres o fizeram por necessidade: de poder ter uma renda e não depender de terceiros e poder ser flexível quanto ao tempo para dar atenção aos filhos.
Eu me senti devastada ao saber de tudo isso, porque comecei a entender a dificuldade da mulher de ter um lugar no mundo. Passei anos sofrendo com isso, tentando engrossar minha voz quando falava, tentando usar roupas mais tradicionais e falar os jargões que tanto me irritavam. Até que vi uma live com Malala Yousafzai em que ela falava que mulheres não tem que buscar se encaixar, porque 52% do mundo é feminino e nós podemos sim criar nossa própria versão de mundo.
E, nos últimos 3 anos, tenho visto despontar cada vez mais pessoas - mulheres e homens - que tem admitido que não querem ser workaholics, serem os melhores, tratorar tudo e todos, querem abraçar sua vulnerabilidade, fazer as pazes com seu lado emocional e se compreender como um ser integral, que não separa trabalho de vida pessoal, mas busca estar em equilíbrio independente do caos.
Mulheres como Luiza Trajano, Brené Brown, Ananda Sueyoshi, Ana Raia, Astrid Lacerda e muitas outras abrem as portas para que muitas outras de nós possamos passar para uma era em que empreender é viver com plenitude, leveza e buscando um auto melhoramento sem mais competir com os outros, pois somos seres íntegros e muito mais do que o nosso carro na garagem ou carimbos no passaporte.
Acredito que ainda temos muito chão a percorrer, muitos a convencer que separar o “empreendedorismo feminino” do “empreendedorismo” é uma perda para todos, pois o machismo também prejudica a vida dos homens -
A frase “homem não chora” é só a ponta do iceberg. Mas estamos em processo de cura, de conversão de ideias para algo que englobe e abranja a todos.
Por isso te incentivo a buscar conhecer mulheres empreendedoras empoderadas que dão um show de performance sem perder noites de sono, horas de lazer com a família e ainda tem tempo de incentivar outras mulheres a aprenderem a fazer o mesmo. Não mais se encaixando em lugar algum, mas se transformando de dentro para fora.
Termino esse artigo com uma fala da Monja Coen sobre o assunto que diz que
“o feminismo surgiu para defender a posição de equidade das mulheres nas sociedades modernas. Entretanto, acredito que a libertação das mulheres só é possível quando os homens também se libertarem”.
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