Todo mundo tem um plano até tomar o primeiro soco na cara - Mike Tyson
O conhecido (e pouco praticado na essência) planejamento estratégico que por muito tempo tinha um objetivo preditivo em um mundo previsível, tem ganhado novas concepções ao ter nas práticas de inovação a referência. Isso por que a ineficiência em lidar com cenários VUCA (voláteis, incertos, complexos e ambíguos) provoca a adoção de práticas mais consistentes e iterativas, e desse modo, uma nova cultura para que o modelo de gestão opere.
Antes de tudo, o óbvio: o mundo mudou radicalmente
E mudou muito, principalmente na sua capacidade de nos surpreender. E não será um big data mágico ou uma tecnologia da Nasa que irá fazer seu negócio sofrer menos o impacto das mudanças. Mais mudanças, mais rápidas e mais incertas.
A diferença é como lidamos com esses movimentos e como funciona a nossa tomada de decisão diante deles.
Se vivemos em um mundo sendo orientados por um mapa, que traça detalhadamente o trajeto do ponto A pro ponto B, no decorrer do nosso curso, podemos nos confrontar com barreiras não previstas ou oportunidades por rumos mais interessantes (que podem envolver riscos) e ainda estaremos muito apegados à um plano detalhado.
Mas e se ao invés de um mapa, tivéssemos uma bússola para navegar com alguns pontos de referência? A trajetória é uma descoberta constante, mantendo o time mais atento ao cenário do que respectivamente na operação do mapa, provocando uma sensibilidade maior em reagir ao ambiente e criativamente desenhar o trajeto quase que em tempo real.
Não é de instrumentos e ferramentas que estamos falando, mas sim de comportamentos.
Foto da facilitação do planejamento estratégico para a Santur - Santa Catarina, órgão público governamental, no qual quase 100 pessoas passaram pela jornada de cocriação desenhando toda estratégia do negócio de forma colaborativa usando os princípios de Design Thinking e Agile.
As lógicas para planejamento
Compreender a diferença entre empreender e gerir é importante para compreendermos o por que planejar. Em linhas gerais, gestão trata de administrar / gerenciar um sistema já conhecido para a melhor performance, enquanto que empreender seriam as iniciativas de desenvolver novas soluções ou transformações necessárias no sistema.
Nesse sentido, o planejamento estratégico daria sentido para a conquista de novos cenários para organização de acordo com as suas demandas, sejam elas de gestão ou de empreendedorismo. Os conceitos também podem ser conhecidos como explotação (gestão) ou exploração (empreender).
Mas na prática, as organizações (principalmente as brasileiras) acabam tendendo construir cenários estratégicos no qual a explotação é o principal caminho, por considerarem o ambiente escasso de recursos e assim necessitam mitigar riscos de forma intensa. São modelos no qual o desdobramento estratégico tem como principal orientação os indicadores objetivos financeiros que tendem a prever um futuro replicando o passado. Em um mundo mais estável e com ciclos econômicos mais longos fazia muito sentido, impactando nos rituais e no modelo de gestão a adotar.
A explotação traz à organização excelência, performance operacional e controle dos indicadores internos. Mas quando em excesso, pode "engessar" o sistema e desconectar a organização dos movimentos socioeconômicos que podem impactar a competitividade e a sustentabilidade do negócio. Mas isso é o reflexo da cultura organizacional, que neste caso, é conservadora e preza pela mitigação de riscos.
Cultura organizacional. De crenças à práticas, rituais e artefatos compartilhados para que a estratégia aconteça do jeito certo para o resultado certo. E quando tratamos de gestão e empreendedorismo, de explotação e exploração, precisamos de uma atenção especial para a lente da cultura e do comportamento. Nisso, o entendimento dos princípios do Effectuation podem auxiliar no desenvolvimento da melhor abordagem que a organização venha a necessitar, no qual pensamento efetual é a base comportamental para empreender e o pensamento causal é o comportamento do gestor.
Eis o desafio. Um mundo em transformações cada vez mais abruptas, com ciclos instáveis e de impacto sistêmico no qual todos interdependem e a performance precisa estar aliada a capacidade de se transformar continuamente frente aos novos cenários formados. Exploração (empreender / efetuação) torna-se estratégico tanto para os resultados objetivos da organização, quanto também para os ganhos subjetivos que ela venha absorver devido ao "jeito de ser" da estratégia desenhada e executada.
Mas... em cenários voláteis e incertos, como planejar para gerir e empreender?
Trazer o Design Thinking e o Agile para o planejamento estratégico têm sido uma opção mais assertiva
Essas, são abordagens para inovação centrada em pessoas, no qual eu particularmente as vejo como faces da mesma moeda. De forma simplificada, o agile tem como premissa a validação de hipóteses por experimentos e iterações, quando o design thinking foca no entendimento profundo dos indivíduos e do contexto para subsidiar suas hipóteses. Em ambas, o foco é resolver os problemas das pessoas aprendendo muito com elas e com toda a jornada.
No planejamento estratégico, essas abordagens oportunizam que a organização se adapte às constantes mudanças que o cenário externo apresenta, demandando uma dinâmica interna adequada para explorar (empreender) e explotar (gerir).
As abordagens estão inseridas tanto na experiência de cocriar o planejamento estratégico, quanto no desdobramento tático operacional junto do modelo de gestão a ser adotado.
Durante a experiência, a visão centrada em pessoas, a colaboração intensa e a criatividade que o design thinking promove serão de muito valor para a construção da visão e das iniciativas, enquanto que o agile dará o ritmo, a consistência e o contínuo aprendizado pela sua estrutura metódica e rituais.
Foto de uma de nossas facilitações para a Duratex ajudando-a na cocriação do planejamento estratégico para suas marcas de revestimento cerâmico, Ceusa e Portinari.
Mas como funciona um planejamento estratégico ágil?
Não existe uma receita de bolo, pílula mágica ou a bala de prata como muitos gestores acreditam ou pedem. Cada caso é um caso, que depende de cada contexto de negócio, da cultura organizacional e da maturidade em gestão envolvida.
Em linhas gerais, estruturamos um planejamento na capacidade de se construir uma visão a médio e longo prazo ambiciosa e engajadora, que se conecte com o time pelo claro entendimento do porque se deve alcançar tal cenário, o propósito.
E essa visão só fará sentido na organização se cumprir o seu propósito, que se bem desenhado, se conecta também com o propósito dos profissionais e demais stakeholders da organização. Entender o por que as pessoas fazem o que fazem, por que trabalham na sua organização e por que colocariam suas vidas nesse projeto, é fator decisivo para a performance dos planos a serem desenhados.
Assim, estrutura-se um ciclo de gestão, ou seja, o tempo de vigência do plano a ser desenvolvido e sua estrutura. Ciclos curtos e consistentes, de revisão e redesenho em períodos como bimestres, trimestres ou quarters, sempre com foco no ciclo a ser desdobrado. A cada encerramento os aprendizados obtidos, e a partir disso, o desenho do próximo.
No campo tático e operacional deve-se inspirar em modelos como os OKRs e as práticas do Hoshin Kanri para desenhar a melhor estrutura para o seu negócio, por isso, evite o ctrl+c e ctrl+v do que funcionou em determinados negócios. Cada contexto provoca determinadas adoções, o que funciona no Google e em todo Vale do Silício, muito provavelmente não vai funcionar e performar exatamente igual para você e seu negócio.
E agora, como levar isso para o dia a dia?
Experimentando. Comece mudando a cultura, comportamentos e práticas dentro do negócio, evitando deixar a construção do planejamento estratégico na mão de poucos integrantes com pouca diversidade.
Um planejamento estratégico deve ser cocriado de forma colaborativa e estar na mão de todos dentro da organização, de forma que estes precisam ter clareza para onde estão indo e o porque fazem o que fazem no dia a dia. Precisam se sentir pertencidos, donos do negócio e responsáveis pelos resultados dele.
Esse tipo de planejamento pode ser aplicado em qualquer tipo de empreendimento, seja ele grande ou pequeno e de diferentes formas. Independentemente do porte do seu negócio, comece com o que já tem e busque também, tanto a realização de benchmark com outros negócios, quanto a pesquisa de tendências e cenários que irão ajudar você e seu time a pensar nos futuros desejáveis para todo o negócio.
Nunca fez um planejamento estratégico ou tem dificuldade de reunir seu time para construir um?
Em um processo como esse, um dos caminhos é a presença de pessoas de fora do negócio que possam contribuir com visões diferentes que tenham menos vícios.
Se você tem esse desafio, nós podemos te ajudar a criar o seu Planejamento Estratégico saindo daquela visão burocrática e pouco efetiva, trazendo para o processo de criação e execução da estratégia uma rotina ágil e integrada ao dia a dia das pessoas, que promova a resolução dos desafios, pensamento e diálogo colaborativos mais efetivos.
Mas e você, já faz planejamento estratégico ágil na sua empresa? Fica a vontade para compartilhar com a gente nos comentários.
Quer saber mais? Entra em contato conosco, será um prazer conhecer seus desafios e te ajudar a solucioná-los!
Um abraço e até a próxima!
Igor Drudi
DRIN
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